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quinta-feira, 15 de maio de 2008

Há alguns dias atrás, conversando com o “senhor meu lorde” (palavras de Vicca), comecei a pensar em alguns fatores relacionados ao tema acima.
Íamos de carro para a Ufes, tráfego lento na 3ª ponte, na Reta da Penha e na Fernando Ferrari. Enquanto o automóvel [não] se locomovia, ouvíamos Jimi Hendrix, Led Zeppelin e Camel (uma banda inglesa de rock progressivo ‘dos anos 70’ cujo tecladista, Pete Bardens, ficou conhecido por sua versatilidade, experimentalismo e por sua criatividade ao compor temas como a ópera-rock The Snow Goose -1975, baseada no livro de Paul Gallico. Depois que Pete deixou a banda, ela nunca mais foi a mesma - de fato).


Camel - Pete Bardens, primeiro à esquerda

Veja abaixo “Rhayader e Rhayader Goes to Town”, da ópera-rock "The Snow Goose".




Senhor meu lorde, aspirante a astro do pop-rock universitário e compositor de jingles, sonha em montar uma banda e compor músicas que marquem uma geração. Creio que não é somente desejo dele, com tantos “MySpaces” e Youtubes explodindo de bandas alternativas, independentes, com músicas boazinhas e, sobretudo, novas. Eu, como pianista e aspirante a compositora, também tenho – lá no fundinho da alma – aquele desejo de ter minhas composições conhecidas por mais pessoas (não que façam sucesso, mas...). Meu bloqueio, decerto, é avaliar a minha própria qualidade como questionável e como não muito ‘alta’. Ainda posso melhorar antes de mostrar ao mundo o que tenho...
Enfim, comecei uma conversa com o lorde, no pé da Reta da Penha. Questões principais: Temos tantos astros e compositores que marcaram e marcam até hoje. Por que será que, atualmente, não vemos novas bandas e músicos (aqui, me atenho a falar do rock, primeiramente) que tenham tanto significado como Rolling Stones, novamente Led Zeppelin, Hendrix ou Emerson Lake & Palmer? Chovem 30 Seconds to Mars, Snow Patrols, Simple Plan’s e tantas outras bandas que, após dois anos de “estouro”, somem da cena pop. Muda a cara, mas o som não é tão distinto.


Mick Jagger, do Rolling Stones

É fato que, há 30,40 anos atrás, montar banda não era febre. Fazer sucesso era algo relativo e novos estilos eram criados a cada dia, por inexistência dos próprios. Não se usava tanta referência como hoje: “ah, para montar meu som me baseei em Bach, Men at Work, Calypso” e se segue, então, um sincretismo e uma mistura...
Rolling Stones surgiu numa época onde poderia reinar absoluto (quase como Beatles) e a concorrência era pouca. Fazer um rock diferente que dê origem a uma legião de fãs foi a sacada da trupe de Mick Jagger. Hoje, como fazer um rock diferente, se já temos essas referências titânicas? Como criar um estilo diferente?
Tomo como exemplo a banda inglesa Sonic Youth. Seu som experimental e indigesto denota a vontade dos integrantes, que é fazer um som realmente novo. Não é unanimidade e, para mim, não é estilo novo. Como diria a Juno revoltada no fim do filme “pra mim é só barulho”, não que não haja algum sentido, mas o som deles é difícil de engolir mesmo. Há quem goste, eu admiro, mas tenho certeza que não marcarão (e não marcaram) uma geração inteira, como os Stones. Sou ridícula ao comparar, mas falo de música.
Nirvana? Marcou uma geração adormecida, uma geração da comida pronta, do início do sedentarismo adolescente, da falta de respostas e da monotonia. Um grito, uma bateria bem marcada e uma guitarra pesada nos riffs chamou a atenção dessa gente e Kurt Cobain virou ídolo. Qualidade na música? Até 5 acordes simples, uma “melodia” mais gritada que cantada... hummm... Não posso questionar quem curte o grunge. Às vezes, também me pego ouvindo “Smells like teen spirit” Vende. Senão, o Foo Fighters não faria esse sucesso todo! E o Pearl Jam, então?
Ah, o Los Hermanos... qual a razão tanto sucesso? Vejo como um grito, um clamor de coisa nova, de algo novo, de sentidos novos. Vejamos: Chico Buarque não toca bandstyle e nem todo mundo tem paciência para ouvi-lo, mas esse público Loshermanista não quer letras tão mastigadinhas e batidas encontradas nas popeiras por aí – eis a brecha para aqueles que iniciaram na cena com o POP “Anna Júlia” (ineedtotalk: aquela voz do Camelo é armação, ele não tem vontade de cantar mesmo, é estilo ou é assim mesmo?). Depois, sumiram da grande mídia e assumiram o indie. Tornaram-se reis. A idéia? Juntar a poesia com a música, de uma forma mais facinha e suave de ser ouvida. A sacada? Se encaixaram na tendência indie.
Assumir-se ouvinte e amante de Chico, na juventude, é assumir ter ouvidos que necessitam de música (e poesia) de qualidade.


Los Hermanos

Assumir-se ouvinte de LH é declarar-se indie e diferente, que foge do pop, mas não do que o ouvido pede. Prefiro o Chico e essa afirmação me (te) soa redundante. Com todas as letras cultuadas pela geração indiezada, o LH não chegou aos pés de “Eu Te Amo”, uma das minhas preferidas do Chico.
O próprio viveu numa época onde o clamor era real, a luta era visível e a necessidade era vital. O cara soube transformar tal necessidade em poesia - não queria ser diferente, queria fazer música – e música boa, que te muda depois de ouvi-la.
Pensei “e o jazz, de hoje?” Soará raso, mesmo pelo meu apego e apreço pelos titãs do jazz, mas desse aqui eu falo. Cito um sangue novo. Pianistas como Eldar me enchem de orgulho: ele pode chamar atenção pela idade (20 e pouquinhos anos), mas compõe e toca jazz que é uma beleza. Ele é jovem! FAZ JAZZ! Raridade.
Suas referências? Com certeza os grandes, como Thelonious Monk – gênio até dizer chega. O som do Eldar me lembra muito o do Monk, pela agilidade incontestável dos dedos – mais contido que o mestre em suas composições, claro.. Monk era insano, às vezes – e que insanidade suprema. Ah, quem dera eu! O Eldar pode nunca obter o status de seu precursor (certamente), mas é admirado por gente que tem mais que o dobro da idade dele. Por gente que entende o que ouve. Isso é ser diferente nessa época saturada.


Thelonious Monk


Meu lorde sempre fala: não é comum ver mulheres cantoras-pianistas com músicas próprias. Não mesmo? Olhe para Alicia Keys: compôs músicas na onda do R&B, mas não foge do hip-hop da estação. Sua mais recente música de trabalho, “No One”, enjoa. Não demonstra criatividade e muito menos virtuosidade. A voz, então... forçada além do limite. Norah Jones tem seu jeito calminho, cria um clima calminho, mas suas melodias não impressionam e não marcam tanto os ouvidos mais exigentes. Diana Krall, mais chique, dama. De último, Carole King – é nessa que eu quero me espelhar, se for para escolher uma referência. Será que tenho chance?
E o rock progressivo? Cheguei ao ponto alto da conversa, quase na Ufes. Surgiu meio que como oposição ao rock’n’roll e ganhou espaço dentre os mais eruditos, que ainda admiravam o ritmo da pedra. Camel, Yes, EL&P, Jethro Tull, King Crimson... A razão da minha obsessão e da minha paixão por progressivo: piano na formação das bandas e um rock que te leva a pensar um pouco sobre sua construção.

Trilogy, Emerson Lake & Palmer


Pense comigo: nos anos 50,60 e 70 não era tão difícil criar algo realmente novo. Vontade, talento e garra numa época onde não se ouvia tanto o ritmo de objetivo. Hoje, a infinidade de estilos e representantes dificulta essa criação. É difícil elaborar algo sem esbarrar em referências, tentando ser original. Em sua época, o EL&P ousou, pegou um piano, um sintetizador, uniu ao violão/guitarra e a bateria: criou esse progressivo gostoso (e, por vezes, difícil) de ouvir. Hoje, se tento usar um sintetizador, como me encaram? “Usou referências, tá copiando”.


Take a Pebble, Emerson Lake & Palmer.


É.. me leva a crer que o que resta aos anos 2000 em relação a bandas é a efemeridade. O pop de dois meses, sempre com mais músicas, mas nunca com uma só. Fazer algo fácil de cantar, de lembrar – na hora, não confunda com o sempre - mas que não te leva a refletir, de fato. Surgirá um estilo novo, além de toda a mistura que rola na cena indie? (Veja essa Mallu Magalhães, fazendo folk americano a la Bob Dylan. 15 anos, meu Deus. Será essa a razão para tanto estardalhaço, como diria meu pai?). Não sei.

Eis a razão de eu não me render ainda: quero ir pro submundo, ou permanecer no anonimato musical, sem receita para criar estilo novo. Porém, continuarei pensando, qual o caminho? Talvez eu nunca ache, ou me contente com a minha platéia solitária.

7 tecladinhos:

camilinha disse...

remexendo minha foto, huh?
vou começar a cobrar direitos de imagem. :P

Darshany L. disse...

Nossa, adorei esse post Monique. Escreveu muito bem. Quero ouvir você tocando um dia :)

Já transformei você em amiguinha do Batata Quente.

O Som da Flauta me acalma disse...

Acho que o orgulho que tenho de você só aumenta! Não só pela amizade que ainda nos torna mais unidas pela música, mais por me pegar altas horas da noite procurando algo agradável e válido e ler seu último post....Continue assim menina, e não pense que marcar uma geração com sua música seja difícil não...porque como você ainda existe e resistem aqueles que Amam o som e tudo aquilo que ela ( a múica ) nos proporciona e nos poporcionará. Amo-te minha meninona....

arash gitzcam disse...

Hum, post interessantísimo. Não conhecia o tal Camel, vou procurar saber, pra mim era só uma marca de cigarro. Sobre a cena atual é realmente desgastante ver o que se aclama por aí.

Eu compus e gravei um disco sozinho, vou lançar esse ano, confira,
http://palcomp3.cifraclub.terra.com.br/pushflows/
pode ser que vc goste. ;D

Cintia Casati disse...

MOniqueee!!!
adorei o blog!!não add ainda pq o meu (n sei pq) não está aceitando!
quando eu crescer quero que meu blog seje = ao seu!!
^^
=*

Vinicius disse...

Ei moça.....primeiro, obrigado pela visita ao meu blog....E alguns comentários ao seu post.
Ao meu ver, entendo que bandas fodarásticas como os Beatles, ou Zeppelin, ou stones nao surgem mais hj, pelo simples fato de termos muitas opções musicais e uma gama incrivel de gostos...naquela epoca, difundir um estilo musical nao era tao simples. Divulgar uma banda era um parto, e por isso POUCAS chegavam ao estrelato. E se o som era bom, as que chegavam ficavam, como é o caso dessas que eu citei.

E nao concordo quando vc diz que hoje nao temos bandas que ficarão marcadas. Acho que o U2, apesar de seu estilo pop nao agradar muitos rockeiros lunaticos que gostam do som pesado do metalica (outra banda que nao será esquecida), creio que ficará para a história sim...é uma banda influente, que como vc diz, reflete em muitas bandas que surgem hj em dia. Eu poderia citar tb, apesar do sumiço temporario, o Red Hot Chilli peppers, que ao meu ver ultrapassará gerações ainda...eu pelo menos quero dar um cd do Red hot pros meus filhos.....

Na parte das cantoras compositoras, cito a Alanis Morissete, que apesar de nao fazer tanto sucesso no Brasil, é extremamente boa no que faz, e canta muito bem. E toca tb.Piano.

é..acho que é isso que eu queria falar...gostei muito do que vc escreveu.....meus parabens...um beijo

Anônimo disse...

é uma pena que ninguem entenda de fato o ponto que você estardaçalha, teimando em socializar em vez de mergulhar na placa de pare da evolução artistica, cultural, espiritual, fincada no amago do pouco de esperança que uste, minha minina, revela ao mundo estático, ocidental, burro e paranóico. vejo, tantos achando, muitos introjetados, e quase ninguem pensando. sei, que a industria musical, artistica, cultural, ocidental, sangue suga e demente, não tem gosto, ou não gosto. Ainda me resta um pouco de silencio, paro pra pensar, se eu não sou tambem produto, do tipo a/b, ocidental, estridente e pobre, talvez, e que talvez eu seja ainda, parte do lixo do momento.